Urso de Pelúcia
Autor: Paulo Mohylovski
A noite estava começando a ficar fria. Eu não esperava aquela queda repentina de temperatura. Puxei a manga do casaco e me encolhi ainda mais dentro dele. Olhei para o relógio. Dez minutos de espera. Pensei em buzinar, mas mudei de idéia. Acendi um cigarro e olhei para a janela no alto do sobrado. A luz continuava acesa. Eu vi a sombra de Manuela andando de um lado para o outro. Dei algumas tragadas no cigarro e depois o joguei na rua. Fechei o vidro do carro e esfreguei uma mão na outra.
``Manuela, Manuela´´, repeti para mim mesmo em voz alta. Por um momento, um filme passou pela minha cabeça. Uma noite solitária, sozinho em casa, abrindo uma garrafa de vinho e depois ligando o computador. Fumando, bebendo e teclando.
Sala de fetiche. Gatinha 17. Olá, como vai? Tecla da onde? São Paulo. Eu também. Qual é o seu fetiche? Palmadas, imobilização. E o seu? Não sei ainda. Gosto de homens mais velhos. Estou sozinha no quarto. Estou excitada. Tenho fantasias de ser dominada. Quantos anos você tem? 42. Uma boa idade. Blá-blá-blá. Goza, putinha. Goza gostoso. Imagina que estou te dando palmadas. Ah, que delícia. Estou gozando. Blá, blá,blá.
O filme continuava. O primeiro encontro. O primeiro beijo. A primeira trepada. Um desejo que explodiu em várias fagulhas. Teve um brilho incandescente e uma morte súbita. Nada de escuridão. Apenas aquela transa de homem mais velho com uma garota. E o meu desejo de palmadas? Não, ainda não. Manuela não estava preparada.
O filme cessou.
Finalmente a porta se abriu. Vi a sombra de Manuela. Ela gritou alguma coisa para a mãe. Depois se virou rapidamente, fechou a porta e atravessou a rua. Ela estava de casaco jeans e minissaia. Abriu a porta do carro e entrou:
- Não está com frio, Manuela?
- Não.
Ela me beijou na boca. Um beijo com gosto de chiclete e café. Fiquei um pouco excitado. Ela se afastou e afundou no banco. Depois ligou o rádio. Sempre ligava naquelas músicas barulhentas. A juventude é mesmo barulhenta. Ficou me olhando:
- O que foi? - ela perguntou.
- Nada.
Liguei o carro.
- Você prometeu...
Eu a interrompi:
- Eu sei. Primeiro, vamos até o shopping. Depois, nós vamos até minha casa.
Ela me olhou com o olhar maroto:
- Não vai doer, vai?
- Vai, mas eu agüento ir até o shopping.
Ela riu.
- Não é isso, seu bobo.
Depois ficou com o olhar perverso:
- Aquilo que você quer fazer comigo... vai doer?
Eu a olhei rapidamente nos olhos e falei seriamente:
- É claro que vai doer.
Ela fez um biquinho:
- Então, não quero.
- Você prometeu, Manuela.
- Tudo bem: eu prometi, você prometeu, nós prometemos.
Ficamos em silêncio. Em poucos minutos, entramos no Shopping. Como sempre, aquele sobe e desce dentro dos estacionamentos até encontrar uma vaga. Manuela ficava apontando:
- Ali... Não, ali... Lá tem outra... Lá...Ali...
- Essa vaga é de deficiente, Manuela.
- Eu saio mancando. Vamos.
- Nada disso. Posso ser um pervertido, mas não vou me sentir bem lesando o direito de um deficiente.
- Tudo bem, senhor Politicamente Correto.
Fiz uma careta pra ela. Manuela me mostrou a língua:
- Ali. Ali. Corre.
- Tô vendo, Manuela.
Estacionei o carro. Saímos. Famílias inteiras entravam e saíam pelas escadas rolantes. Manuela me puxou pela manga da camisa. Parecia bastante entusiasmada. As pessoas nos olhavam. Talvez pensasse que se tratava de pai e filha. Eu não me importava. Nem Manuela. Ela só queria saber de ficar correndo pelas escadas e corredores. Ela achava que eu tinha a idade dela. Eu me arrastava. Manuela ia mais na frente, me chamando. Algumas vezes, eu a perdia. De repente, a encontrava de novo. Mais uma vez parecia um filme. Era como se ninguém tivesse rosto. Apenas aquela garota loira tinha um rosto. Um rosto sorridente. Um rosto de jovem perversa.
Manuela parou diante de uma loja de bichos de pelúcia. Ficamos olhando a vitrine. Tinha todo tipo de bicho: de golfinhos a tigres de Bengala. Manuela me pegou pelo braço e me puxou para dentro da loja. Uma vendedora uniformizada veio nos atender:
- Pois não, senhor?
Manuela respondeu por mim:
- Eu quero aquele urso panda. - e apontou para um imenso urso panda sentado numa prateleira. Tinha uma cara boa aquele urso.
Manuela correu e o abraçou:
- É este que eu quero.
Olhei o preço. Tomei um susto. Era um bocado de dinheiro para um bicho de pelúcia. Manuela fez bico mais uma vez:
- Você prometeu.
- Tudo bem.
Fiz um cheque e dei para a vendedora:
- Quer embrulhar o urso, senhor?
- Não. Eu vou levar assim - Manuela respondeu por mim novamente.
A vendedora pegou o cheque, tirou a nota da registradora e me entregou:
- Obrigado, senhor.
Balancei a cabeça. Saímos da loja. Manuela parecia entusiasmada como uma criança. Aliás, Manuela era quase uma criança. Há dez anos atrás, não passava de uma pirralha. Enquanto que eu, há dez anos trás, já estava terminando um casamento.
- Tinha milhares de bichos naquela loja. Por que escolheu um urso panda? - perguntei.
Ela riu:
- É porque me lembra você.
- Sei, por causa das minhas olheiras?
- E por causa da sua barriguinha.
Passei a mão pelos cabelos:
- Caramba! Fui comparado a um urso panda por uma ninfeta. Esta noite não vou conseguir dormir.
- Seu bobo. - ela me abraçou e me beijou no meio de um corredor.
Quando paramos, algumas pessoas nos olhavam, chocadas.
- Não precisamos chamar atenção, sua diabinha.
- Foda-se! - ela disse, dando de ombros. Depois me puxou pela mão:
- Vamos tomar um sorvete.
- Eu não quero. Você prometeu que...
- Eu sei, eu sei. Um sorvete e depois vamos pra sua casa...
Respirei profundamente, resignado. Depois fomos até a sorveteria. Manuela demorou uma hora pra escolher dois sabores: pistache e coco queimado. Eu preferi tomar um café. O urso panda não quis nada, mas ficou sentado numa cadeira.
- Eu tenho que arrumar um nome pra ele...
- Depois você arruma.
- Ele vai dormir comigo todas as noites...
- É mesmo?
- Eu vou ficar peladinha, abraçando ele...
- Que urso sortudo! Saiu de uma prateleira pra cair direto na cama de uma safadinha.
Manuela sorriu. Eu achei que o urso panda também tivesse sorrido.
Ficamos em silêncio. Manuela continuava tomando o sorvete lentamente. Estava cabisbaixa, pensativa. Depois de um tempo, levantou a cabeça e perguntou:
- Eu não vou ficar marcada?
Suspirei mais uma vez, impaciente:
- Se depender de mim, vai.
- Então, não quero...
- Eu não vou lembrar mais uma vez que você...
- Eu sei: eu prometi.
Manuela terminou o sorvete.
- Eu queria ver um sapato pra uma festa que eu tenho no sábado. Será que a gente não podia passar numa loja? Rapidinho.
- Não, Manuela. Você vai pra minha casa. A minha paciência está se esgotando.
Ela abaixou a cabeça:
- Tudo bem.
Ela se agarrou ao urso de pelúcia e foi andando em silêncio ao meu lado. Eu passei a mão pelos seus cabelos lisos e loiros. E não disse nada.
Entramos no carro. Manuela continuava quieta. Nem ligou o rádio. Eu que liguei. Coloquei numa música clássica. Deixei meus pensamentos viajarem ao som de Mozart. Fechei os olhos. A melodia me embalava. Olhei para o lado. Manuela estava com os olhos cheios de lágrimas. Abaixei o som:
- O que está acontecendo, Manuela?
- Eu tô com medo. Eu não sei. Ficar amarrada... Apanhar...
Segurei-a pelo rosto e falei mansamente como uma pai que fala com a filha:
- Você sabia. Você combinou comigo. Você sabe como eu sou.
- Eu quero também, mas você tem que entender que uma coisa é fantasiar, outra coisa é fazer.
- Bem que me disseram que quem brinca com criança acorda molhado.
Manuela me fuzilou com o olhar:
- Eu não sou criança. - ela gritou.
- Psiu. Fica quieta. Quer assustar o urso panda?
Ela olhou pro urso:
- Desculpa, Ursinho. Eu não quis te assustar. É que não suporto que me chamem de criança.
Liguei o carro e fui saindo lentamente do estacionamento:
- Vou pra sua casa ou vou pra minha? - perguntei.
- Pra sua.
- Tem certeza?
- Tenho.
Eu senti uma deliciosa sensação percorrendo meu corpo. Mudei a estação de radio e coloquei numa música mais agitada. Manuela cantarolava baixinho. Quando paramos num farol, coloquei a mão na sua perna. Ela continuou cantarolando. Peguei o urso, que estava no seu colo, e o coloquei no banco de trás.
- Pra coisa esquentar um pouco, por que você não tira a calcinha por baixo da minissaia?
Manuela me obedeceu automaticamente. A calcinha branca ficou na sua mão. Eu a peguei a cheirei. Manuela tinha um cheiro forte. Joguei a calcinha no urso panda. Esperei mais um farol fechar pra colocar a mão no meio das coxas de Manuela. Meus dedos percorreram o seu sexo completamente depilado. Ela fechou os olhos. Estava encharcada de tesão. Fiquei brincando um pouco com seu grelinho, depois voltei a me concentrar na direção.
Eu morava perto do Shopping. Estacionei o carro diante de casa. Manuela olhou para mim.
- Está assustada?
- Não. Estou excitada. Você me deixou tesuda.
Saímos do carro. Ela pegou o urso panda.
- Deixa o urso no carro.
- Não, ele vai comigo.
Resolvi não discutir. Entramos em casa. Acendi as luzes e coloquei uma música. Peguei um pouco de uísque. Manuela se sentou no sofá junto com o urso.
- Eu não posso demorar.
- Eu sei. Só quero beber um pouco.
Fui até ao seu lado e me sentei. Depois lhe dei um beijo. Um beijo suave que se tornou libidinoso. Enfiei a língua com volúpia. Quase a matei sufocada.
- Eu não gosto de hálito de bebida. - ela disse.
Deixei o copo de lado.
- Muito bem, Manuela. Vamos começar. Tire toda roupa. Eu adoro te ver nua.
Manuela se levantou. Tirou o casaco jeans e a blusa. Estava sem sutiã. Os seios estavam pontudos. Em seguida, ela tirou os tênis, as meias e minissaia. Ficou com a correntinha no tornozelo.
Olhei para o corpo dela. Era uma ninfeta deliciosa.
- Coloque só o casaco jeans.
Ela colocou. Ficou sensual e indefesa. Aos poucos, fomos assumindo novos papéis. Gosto disso. Aquele mundo luminoso do lado de fora vai sendo deixado para trás. Entramos, aos poucos, num novo mundo. Uma personalidade diferente começa a brotar dentro de mim. Manuela também vai ficando diferente. O seu lado infantil fica mais atenuado. Ela fica mais séria e mais silenciosa.
- Venha até aqui.
Ela dá um passo e se aproxima de mim. Pego nos seus seios e vou acariciando os dois aos mesmo tempo. Aos poucos, aperto com mais força. Ela dá um grito de dor.
- Vire-se.
Manuela se vira. Olho para as nádegas. Eu afasto uma da outra. Vejo a fenda rosa aparecendo em todo seu esplendor. Tenho vontade de sufocá-la com meus beijos. Enfio a boca no orifício e sugo como um autêntico libertino. Manuela não agüenta o prazer e começa a se contorcer. Passo a mão pelo meio das suas pernas e afago a sua buceta por inteira. Ela está cada vez mais quente. Manuela está de olhos fechados. Parece alterada. Já não olha mais para o urso panda.
Eu a pego pela mão e a levo até meu quarto. Abro a porta de um armário e tirou uma corda branca, macia.
- O que você vai fazer? - ela pergunta.
- Nada - respondo. Seguro as suas mãos bem juntas. - Fique assim. - eu lhe digo e começo a passar as cordas por elas.
Deixo uma ponta enorme, que amarro no batente da cama:
- Precisa mesmo me amarrar?
- Você pode fugir.
- Eu não vou fugir.
- Não vai mesmo. - eu digo com um sorriso irônico.
Em seguida, volto para a sala e aumento o som da música. O urso panda me olha. Parece assustado.
- Não se preocupe, meu velho. Daqui a pouco a sua ninfeta vai tá liberada.
Volto para o quarto. Manuela está olhando para os quadros na parede. Eu me aproximo. Olho novamente para as suas nádegas. Tenho vontade de cantar. Eu me sinto perdido no tempo e na eternidade. Estou na Roma Antiga. Estou na Grécia. Estou num quarto no palácio de Versalhes. E minha mão começa a cair nas nádegas de Manuela.
Dou vários golpes. Ela agüenta sem nada dizer. A bunda já está avermelhada, como um poente no inverno. Paro por um momento. Aprecio a minha obra de arte.
- Doeu?
- Um pouco, mas me deixou muito excitada.
Volto a bater com mais força. Desta vez, ela dá gritinhos agudos. Eu paro. Aliso a bunda. Minha mão está doendo. Vou até o armário e pego um cinto. Ela me olha assustada:
- Você disse que era só tapa.
- Mudei de idéia. Vou te dar algumas cintadas também.
- Não, por favor...
Pego um lenço de seda e amordaço a boca de Manuela:
- Os seus gritos mexeriam muito comigo, me levariam a querer desejar o Impossível. Prefiro o silêncio, entrecortado pelos som das cintadas.
Sem outras palavras, comecei a distribuir cintadas na bunda e nas coxas de Manuela. Ela se contorcia de dor. A sua expressão ficou apavorada. Lágrimas caíam pelo seu rosto. Sorri. A volúpia tomava conta do meu ser. Dei outras cintadas mais fortes na bunda e nas costas. Manuela respirava com dificuldade. Parei. Depois me aproximei e passei a mão pela sua bunda. Ela continuava com o olhar aflito. Estava cada vez mais amedrontada. Joguei o cinto na cama.
- Pronto! Acabou.
Eu me sentei na cama. Olhei pra ela, amordaçada e amarrada. Meu sexo fervia de excitação. Eu comecei a me masturbar sob o olhar atônito de Manuela. Em poucos minutos, estava gozando, aos gritos, de uma maneira obscena. Depois me recuperei e fui até o banheiro me limpar. Quando voltei para o quarto, tirei a mordaça de Manuela:
- Seu doente! Me solta!
Soltei os braços de Manuela:
- Você é uma maníaco. Um tarado. Por que não faz sexo como todo mundo? Prefere me bater e se masturbar. Eu não acredito. Seu idiota.
As lágrimas continuavam rolando pela sua face. Foi até a sala e se vestiu. Continuava chorando. Pegou o urso e o abraçou:
- Eu quero ir embora. Me leva pra casa. Agora!
Eu estava esgotado. Peguei as chaves do carro, nem fechei direito a porta de casa. Abri o portão e depois entramos no carro. Manuela ficou em silêncio até chegar na sua casa.
- Por favor, não me procura mais. - ela disse e saiu correndo, abraçada no urso panda.
Voltei para casa. Eu não me sentia nem triste, nem alegre. Eu me sentia vazio. Liguei a televisão. Não tinha nada. Apenas programas religiosos e filmes. Fiquei olhando para a televisão, mas eu não via nada na minha frente...
Nenhum comentário:
Postar um comentário