A SONÂMBULA
A lua estava ferozmente amarelada naquela noite de outono. Estava uma temperatura agradável. Árvores se balançavam ao vento. Guinchos de pássaros(ou seriam morcegos?) cortavam o ar. Três homens maltrapilhos jogavam cartas. Um tamborete servia de mesa. Outros tamboretes serviam de cadeiras. As carroças de cada um deles estavam ao redor. Uma garrafa de pinga passava de mão em mão. Uma fogueira estava acesa.
Eles não falavam nada. Apenas o monótono movimento do baralho ensebado. Uma gargalhada explodiu no ar:
- Bati!
O mendigo barbudo tinha os olhos vermelhos:
- Hoje é o meu dia de sorte!
Os outros dois ficaram em silêncio.
- Melhor do que isso só mesmo aquela dona, o mendigo completou.
O outro levantou os ombros:
- Lá vem você com esta história novamente.
- Estou dizendo: a dona apareceu na porta usando uma camisola transparente.
- E você o que fez?
O barbudo deu uma gargalhada:
- Bati punheta, dentro da carroça.
Os outros dois riram. O barbudo ficou em silêncio e aguçou os ouvidos.
- Você não ouviram um barulho?
A risada acabou.
- Eu não ouvi nada, disse um deles.
- Nem eu, respondeu o outro.
O de barba continuou com todos os sentidos aguçados.
- Tenho certeza que ouvi alguma coisa.
Ele estava bêbado, mesmo assim o som de um graveto sendo quebrado ficou nítido nos seus ouvidos.
- Você bebeu demais, meu velho.
O barbudo se levantou:
- Tem alguma coisa ali, naquele mato.
- Senta aí e vamos continuar o nosso joguinho.
- Não, há alguma coisa ali.
- Ei! Onde você vai?
O barbudo deu a volta pela carroça e tirou um enorme bastão de madeira:
- Se for algum engraçadinho, ele vai se ver comigo.
O seu olhar ficou ameaçador. Os outros dois maltrapilhos resolveram continuar o jogo de cartas.
O barbudo foi se afastando aos poucos. Sentiu um calafrio percorrendo a espinha quando entrou na trilha no meio do mato.
Continuou caminhando, atento a qualquer ruído.
- Não deveria ter bebido tanto, pensou.
Um gemido, leve como uma pluma, cortou o ar. O barbudo ficou paralisado.
- Meu Deus! Eu ouvi alguém gemendo.
O gemido se tornou mais alto. O mendigo ficou todo arrepiado:
- Eu agora tenho certeza. O gemido veio daquele arbusto.
Ele se preparou para o ataque, erguendo o bastão de madeira. Foi se aproximando lentamente. Estendeu a mão. Estava trêmulo. Aos poucos foi afastando o arbusto. Quando viu o começo de uma perna, sentiu o coração batendo mais rápido. Ficou estarrecido com o que viu e largou o bastão.
Uma mulher nua estava estendida no chão, com os olhos fechados, como se estivesse adormecida.
Ele pensou em correr, mas a visão da mulher era mais embriagante que todas as bebidas.
Por um momento, ele ficou contemplando aquele quadro de amor e luxúria que estava bem na sua frente.
A mulher era linda. E estava quase no meio da lama. Uma verdadeira orquídea em cima do lodo.
O mendigo não piscava. A mulher se espreguiçou. Abriu os olhos e deu um sorriso. Tornou-se ainda mais linda.
- Que horas são? Acho que dormi um pouco mais da conta.
O mendigo estava atônito. Não conseguiu dizer uma única palavra.
- Estou com um pouco de frio, a mulher disse e se sentou, encolhendo-se toda. Depois completou:
- Não devia ter saído de casa sem nenhum roupa.
O barbudo apertou os olhos com força. Só poderia estar sonhando. Aos poucos, conseguiu balbuciar algumas palavras:
- A senhora... quer alguma coisa?
Ela riu:
- Primeiro, não me chame de senhora. E segundo...
Ela parou.
O barbudo fez uma expressão de curiosidade:
- Pode falar, eu faço o que a senho... o que você quiser...
A mulher estendeu os braços para ele:
- Eu quero um beijo.
- Um beijo?!
Ela sorriu docemente:
- Você não sabe o que é um beijo?
Por um momento, o mendigo olhou para os amigos, que distantes continuavam jogando cartas. Ele voltou a olhar para mulher. Ela continuava ali, como se fosse um sonho. O barbudo não sabia o que fazer. Há quanto tempo não beijava uma mulher? Lembrou-se de uma garota, uma mulatinha, que todos beijavam e faziam sexo com ela. Foi a última mulher que havia beijado. A outra, a mulher nua, continuava esperando:
- Então, rapaz, vou ter que chamar outro homem?
O mendigo se abaixou. Não sabia o que fazer com as mãos. De uma maneira um tanto ridícula conseguiu abraçar a mulher. Ela se jogou no seus braços e lhe deu a boca para ser beijada. Ele se aproximou aos poucos. O hálito de cachaça era bem forte, mas ela não se importou. O barbudo estava bem próximo. A mulher abriu levemente os lábios. O maltrapilho colou a boca na boca da garota. De início, o beijo foi suave, mas o calor dos lábios unidos se tornou tão intenso que o beijo se transformou numa guerra de línguas e mordidas.
Naquele beijo, o homem se transportou. Não estava mais naquele mato, mas em algum lugar cheio de luzes, de alegria, de música. Não queria mais terminar, mas quando tudo acabou a mulher continuava ali, olhando-o ainda com mais intensidade. Tinha carinho e desejo saindo dos olhos da mulher:
- Eu quero mais, ela disse.
O barbudo abriu um sorriso e se aproximou para um novo beijo. Ela o afastou:
- Eu não quero um beijo na boca.
O mendigo a olhou com uma expressão de dúvida. Ela se deitou e apontou para o meio das suas coxas:
- Eu quero um beijo aqui!
Ele olhou para o meio das pernas da mulher. Era esquisito. Tanto tempo sem ver o sexo feminino que parecia que era a primeira vez. Aquele sexo, com aqueles cabelos encaracolados, parecia um pássaro exótico com uma deslumbrante plumagem.
A mulher estava de olhos fechados e estava aguardando que ele se aproximasse. O mendigo limpou a boca num gesto involuntário. Depois esticou todo seu corpo e se deitou no meio das pernas daquela linda fêmea. Não pensou em mais nada. Grudou a sua boca na entrada do sexo aberto e umedecido e lhe deu um beijo de língua, cheio de desejos.
Ela começou a gemer. Mais uma vez, o mendigo barbudo se perdeu em sensações maravilhosas. Era como se estivesse provando a mais fina iguaria. Ele simplesmente não acreditou quando sentiu aquela deliciosa calda escorrendo para dentro da sua boca. Teve desejos insanos e abriu as pernas da mulher com as duas mãos. Abriu ao máximo. Ela o olhou deslumbrada e o estimulou:
- Isto mesmo, é assim que eu gosto: bem aberta.
O mendigo já não era mais um simples mendigo. Era um homem. Um homem que se tornou novamente viril, vivo. Levantou rapidamente e desatou a corda que estava em volta da calça e que lhe servia de cinto. O trapo caiu ao chão e ele ficou nu. O sexo, apontado para cima, tinha mais dignidade na cabeça altiva do que o próprio dono dele, tão maltratado pela vida.
Só que desta vez, ele iria à forra. Deitou-se em cima da mulher e arremeteu várias vezes. A garota colocou as pernas por cima das costas dele e arquejou de prazer:
- Humm.... tudo... põe tudo..., ela gemeu.
O homem foi até o fim. Pela sua cabeça, anjos voavam. As estrelas caíram do céu e cobriram seus olhos. Tudo era uma sinfonia. A vida valia a pena ser vivida. Ele estava vivo novamente. Vivo!
Quando terminou, ele não se conteve de alegria. Pulou, dançou, gritou. A mulher sorria, mas depois o olhou nos olhos e disse:
- Agora preciso voltar a dormir.
Fechou os olhos e adormeceu novamente.
O mendigo a contemplou por alguns instantes, mas depois se vestiu e saiu correndo até onde estavam seus amigos:
- Uma mulher. Eu vi. Eu transei com ela. Era linda.
- Você enlouqueceu ou bebeu demais?
Os dois olhavam horrorizados para o barbudo:
- Estou dizendo, tem uma mulher linda, dormindo naquele mato. Ela está nua. Eu transei com ela. Eu juro.
Os outros dois se olharam. Um deles fez sinal que o outro havia enlouquecido. O barbudo percebeu o sinal:
- Eu não estou louco, Vocês vão ver com seus próprios olhos.
Os três foram até o meio do mato e abriram o arbusto:
- Cadê a mulher?
O barbudo se aproximou. Não havia mais ninguém ali:
- Eu juro! Eu juro por esta luz que me ilumina: tinha uma mulher aqui, nua.
Os outros dois viraram as costas e deixaram o barbudo paralisado no mesmo lugar e com o olhar atônito:
- Eu juro, ele repetiu para si mesmo.
Num amplo apartamento de cobertura dos Jardins, uma linda mulher se espreguiçava na sua cama. Amanhecia. Ela olhou para o sol que entrava pela janela.
- Estranho, ela pensou, sonhei que estava no meio do mato transando com um mendigo barbudo.
Ela fez um gesto com a mão, como querendo afastar aquela imagem para longe:
- Ah, foi apenas um sonho.
Depois se virou de lado e voltou a dormir...
Paulo Mohylovski
Obs: Este conto foi escrito para o grupo de contos eróticos do Yahoo, mas autorizo a sua divulgação em outros sites.
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